segunda-feira, 2 de agosto de 2010

PASSAGEIROS DA ETERNIDADE























… e nós pudemos desfrutar a natureza do ponto mais alto da Serra Amarela, olhar o infinito de azul intenso, a névoa que nos impediu de ver o mar, a dureza das pedras para o lado dos Carris, as alturas do Soajo e cada um poder sonhar à sua maneira.
É certo que o tempo vai demonstrando a minha incapacidade de passar a ideia desse convívio com a natureza. Movidos pela curiosidade e o interesse, muitos não regressaram para tristeza minha, mas outros vão e vêm e sempre estão chegando novos. Desta vez vieram a Sílvia e o André que se juntaram aos restantes oito e com a visita da estrela da manhã lá partimos em direcção ao Lindoso ainda receosos do frio. Chegamos ao sopé do castelo e recolhidas as primeiras informações iniciamos a travessia da aldeia, começando desde logo a subir a patamares elevados, pelo que vinte minutos depois ainda com a aldeia a nossos pés, o bonito e soberbo castelo do Lindoso, que noutros tempos foi o símbolo do poder dos senhores do Vale do Lima e susteve as arremetidas castelhanas provindo da Galiza, ia agora ficando cada vez mais distante e mais pequeno, um ponto na paisagem que se ampliava ao nosso olhar. Encontrada a estrada florestal agora aberta ao trânsito automóvel e já com o azul intenso da albufeira em toda a sua extensão iniciamos a caminhada que nos iria levar aos 1400 mt. O caminho era fácil, longo e sempre inclinado. Quando o nosso olhar já se ia habituando à policromia da paisagem, onde o Outono construía quadros entre os castanhos e os verdes, paramos para reaver um pouco das forças. Logo adiante voltaríamos a deter a marcha, mas agora para nos deslumbrarmos com a imensidão do azul do céu e da água. A magnitude da paisagem retinha-nos a caminhada, pois era impossível passar sem deixarmos de guardar na memória tanta beleza. Já a manhã ia avançada quando ao dobrar de mais uma curva, o nosso objectivo nos apareceu no horizonte, majestoso nas suas alturas, tão perto e tão distante como em breve poderíamos constatar. Para baixo, ficava o serpentear do caminho percorrido e por aí podíamos calcular o quanto já tínhamos subido. Por volta da uma da tarde, aproximamo-nos do sopé do cabeço onde se instalavam os retransmissores e o que avistámos foram ainda dois quilómetros de estradão com um grau de inclinação demasiado acentuado. Parámos para observar o local onde ficámos no mês de Março e é nesse momento que o Acácio e a Leonor se dispõem a aguardar por nós enquanto fazemos a última subida. Ah! É daqueles momentos que vivemos em segundos um ligeiro drama. Isto de caminhar na natureza e nas montanhas tem sempre um princípio, ou vamos todos, ou não vai ninguém, mas em contrapartida ali estavam os retransmissores, desafiadores, prestes a vencer-nos pela segunda vez e agora tão perto. Decidimos partir com a mágoa de os deixar. Talvez por isso caminhamos mais céleres e 25 minutos depois alcançamos o tecto da montanha. Tudo se avistava dali. Era um pouco, o mundo a nossos pés. O dia estava perfeito com um tempo magnífico como não podíamos ter sonhado. Sol brilhante, sem vento, sem frio, temperatura amena. Por ali ficamos 30 minutos, a observar, a almoçar, a usufruir de tão soberba paisagem, para de seguida iniciarmos a descida ao encontro dos nossos companheiros e para a fotografia do grupo. Às três da tarde, era o regresso definitivo. O sol amaciava a intensidade e dava novas tonalidades às árvores, aos arbustos, às pedras, a tudo o que nos rodeava. Quando parámos era já o pôr-do-sol a acariciar-nos os gestos e começamos a deleitar-nos com a tonalidade das imagens. Tal como os seres humanos apaixonados que não sabem como guardar a paixão na memória, fomos fotografando o que os nossos olhos viam, com a sensação de que desta forma exprimíamos melhor o sentimento do prazer sentido. Os violetas, misturados com os castanhos, pontuados de verde e cobertos por uma carícia de sol que se arrastava pela encosta abaixo, tornava deslumbrante a beleza das coisas olhadas. Uma lua linda em quarto crescente apareceu no limite do infinito e sobre o cume das montanhas estendiam-se chamas de oiro. A noite visitou-nos quando faltava ainda uma hora para o fim como estava previsto e um luar, brilhante grandioso cumpriu o seu papel. Bordejamos de novo a aldeia pelo sul e pela encosta enquanto a luz do selenita por entre as folhas e ramagens das árvores desenhava sombras no chão. Pelas ruelas estreitas e íngremes do Lindoso, sentimos, como disse o Acácio, os odores do mundo rural, de um tempo que se escoa por entre as nossas mãos. O frio era apenas o que resultava da nossa paragem e da ausência do esforço da caminhada. Num café de pedra granítica e quente, deliciamo-nos e aquecemo-nos com chã e chocolate quase batido. Depois foi o regresso.

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