terça-feira, 27 de julho de 2010

PASSAGEIROS DA ETERNIDADE


















Olá! Meus amigos de caminhada

Nem sei por onde começar. Uf! Esperem um pouco para recuperar o fôlego. Pois bem, lá fomos. Como sabem, nas inscrições foi uma “mortandade”. Daquele ânimo de Setembro, metade não resistiu, mas estas coisas são assim mesmo. Da próxima vez será melhor e seremos mais. Temos que manter viva essa esperança. Pois, como ia dizendo lá fomos nove. Ao grupo de Novembro juntou-se a Leonor e o Acácio, saiu o Pedro e veio a Claudina. Chegamos todos a horas, o tempo estava magnífico, uma espécie de presente dos deuses. Não sabíamos era que ainda iríamos precisar mais vezes da sua ajuda, mas isso foi já lá mais para diante. Com o sol a erguer-se do nosso lado direito, lá rumamos à natureza. Chegados à fronteira, de imediato encetamos a jornada, subindo rapidamente a alturas confortáveis, ficando lenta e gradualmente por cima de tudo. Ao longe víamos o caminho de Novembro e em nosso redor era uma profusão de cores, entre o rosa que predominava, os diversos verdes, o castanho misturado com o cinza e o infinito azul na abóbada celeste. No momento em que o caminho que era bom estabilizou um pouco pudemos olhar a imensa lagoa azul da barragem de Vilarinho da Furna. Hora e meia depois, fazíamos a primeira paragem, no fim do caminho bem traçado que tínhamos seguido e no início da montanha propriamente dita. Ao procurar o rasto das mariolas, o Alcino caiu, magoou-se num joelho mas sem qualquer consequência. Mais tarde voltou a cair, mas já teve o cuidado de bater com o mesmo joelho, para, pelo menos, um ficar direito. Encontradas as pedrinhas mágicas, internamo-nos por entre desfiladeiros, encostas e pequenos prados até nos aparecer o objectivo a alcançar. Ali estavam os retransmissores do Muro, aparentemente inatingíveis. A barragem do Lindoso surgiu do lado direito entre uma fenda e pouco depois o muro da fronteira dizia-nos que estávamos certos na direcção, só que era uma da tarde, caminhávamos há três horas e meia, desconhecíamos a distância ainda por percorrer, pelo que se impunha tomar uma decisão sobre o continuar ou regressar após o almoço. Concluímos pelo regresso, mas procurando uma variante através da aldeia de Vilarinho que nos levaria até à albufeira. Era um risco, mas estas coisas não se fazem sem risco, caso contrário, não há aventura, nem o prazer da descoberta. Escolhemos a parte mais íngreme da encosta para descer e não encontrando vestígios de mariolas, acabamos por concluir que o terreno e a vegetação não permitiam a passagem. Enquanto o Bruno e o Acácio subiam até uma vertente, os restantes invertiam a marcha, mas desviando-nos um pouco para a direita através de uma subida com bastante inclinação. O sol incidia com a força das duas e meia da tarde, o vento amainou pela protecção da encosta e foi nesse momento que aconteceu o que nunca desejamos que possa acontecer, o que só de forma remota admitimos como provável. Ao tentar subir uma pedra a Leonor escorregou e caiu. Socorremo-nos da terceira carga de baterias, pois as de reserva já estavam esgotadas e aproximamo-nos rapidamente. Nos primeiros minutos, assustamo-nos, num misto de preocupação e ansiedade, mas calmos, só preocupados. Esquecemos a beleza do sol e daquela paisagem que se estendia ao nosso olhar e o tempo, pareceu uma eternidade, uma enorme eternidade, mas felizmente a Leonor recuperou. Claro que percebemos de imediato que se impunha o regresso, mas pelo caminho já percorrido, pois sendo conhecido dava garantias de ser alcançado com mais facilidade. Ia ser uma caminhada paciente, de muita paciência, pois a Leonor ficara naturalmente debilitada. A montanha que se apresentava à nossa frente parecia assustadora. Olhada à distância, procuramos o trajecto aparentemente mais acessível e lá fomos. Iríamos demorar duas horas a subir o que tínhamos descido em 30 minutos e para surpresa nossa ao alcançarmos o cimo, encontramos as mariolas que certamente nos teriam levado a Vilarinho. A caminhada estava longe do fim, mas a Leonor comportava-se como uma verdadeira heroína. O vento passou a soprar mais forte e o boné foi substituído pelo gorro, reforçando-se a protecção das camisolas, excepto a Fátima que tinha acabado de perder a sua. A ideia era alcançar o caminho florestal antes da noite, caso contrário ficava muito difícil o que já estava complicado. Não parecia nada impossível tal pretensão, mas como sempre acontece nestas circunstâncias, alguém esticou o caminho e o fim parecia nunca mais chegar. Como tendemos a olhar só para o que desejamos alcançar começamos a perder as referências e já não conhecíamos o que tínhamos visto algumas horas antes. O sol escondera-se por trás da montanha mais próxima e a luz do dia era agora apenas o reflexo da sua luminosidade, até que às sete menos vinte, estávamos já no caminho que procurávamos. Agora tanto a Leonor como o Acácio, cujo músculo da perna o havia traído, poderiam caminhar com mais segurança. O céu de azul claro foi ficando azul-marinho, mas a luz continuava a iluminar o caminho após termos chamado a lua no quarto crescente e as mariolas eram agora as estrelas que foram chegando uma a uma para nos guiar. Os vultos eram sombras na penumbra da noite, Olhávamos periodicamente para trás e confortava-nos ver o casaco branco da Leonor e escutar as vozes do Acácio e do Oliveira. O pior já tinha passado. A albufeira de Vilarinho já não era o azul em estado puro, mas uma mancha escura algures no meio do espaço. Já se viam as luzes dos faróis na estrada, até que às oito e quinze alcançámos os automóveis e respiramos de alívio. Afinal tudo tinha corrido bem. Restava o cansaço, mas certamente que estávamos felizes. Ainda paramos para tomar um chá e o Acácio e a Leonor rumaram directamente a casa, pois bem mereciam um bom descanso.
Aqui chegados, podemos dizer que foi uma boa caminhada. Mais uma vez não alcançamos o objectivo porque certamente temos sido ambiciosos, mas o que se procura é esse encontro com o ar puro, com a natureza quase virgem, o sossego e o isolamento, o longe de tudo com a civilização à vista. Tudo isso vivemos no dia de ontem e desta vez tivemos até uma heroína, que nos demonstrou que mesmo na adversidade não devemos desanimar. Por isso, vos proponho um regresso em Maio, talvez a 22, num passeio mais curto e mais suave, um pouco de carro e uma visita à aldeia submersa de Vilarinho da Furna com regresso pela Calcedónia. Coragem, venham e vivam connosco um dia diferente.
As fotografias vão nesse ficheiro. Tem quase 9 MB mas não digam a ninguém senão “matam-me”.

Um abraço e até à próxima.
Março de 2004



















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